Capoeira
A capoeira é
uma representação cultural que mistura esporte, luta, dança, cultura popular,
música e brincadeira. Caracteriza-se por movimentos ágeis e complexos, onde são
utilizados os pés, as mãos e elementos ginástico-acrobáticos. Diferencia-se das
outras lutas por ser acompanhada de música.
A Roda de
Capoeira foi registrada como bem cultural pelo IPHAN ( Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional) no ano de 2008, com base em inventário
realizado nos estados da Bahia, de Pernambuco e do Rio de
Janeiro, considerados berços desta expressão cultural.
Janeiro, considerados berços desta expressão cultural.
Em novembro
de 2014, a Roda de Capoeira recebeu o título de Patrimônio Cultural Imaterial
da Humanidade pela UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a
Ciência e a Cultura).
A capoeira é
disputada por duas pessoas que se defrontam no meio de uma roda formada por
outros capoeiristas, ao som de palmas e berimbaus.
A capoeira
desenvolveu-se principalmente na Bahia e difundiu-se por vários estados, como o
Rio de Janeiro, São Paulo e Pará.
Etimologia:
Existem duas
possibilidades comumente aventadas para se explicar a origem do termo
"capoeira":
derivaria do
cesto homônimo utilizado pelos escravos para transportar as aves capadas até os
mercados onde elas seriam comercializadas: os escravos, no caminho até os
mercados, se distrairiam com movimentos de luta, originando, assim, a
denominação "capoeira" para os movimentos praticados;
derivaria do termo tupi kapu era, que
significa "o que foi mata", através da junção dos termos ka'a
("mata") e pûera ("que foi") . Refere-se às áreas de mata
rasteira do interior do Brasil onde era praticada agricultura indígena.
Acredita-se que a capoeira tenha obtido o nome a partir destas áreas que
cercavam as grandes propriedades rurais de base escravocrata. Capoeiristas
fugitivos da escravidão e desconhecedores do ambiente ao seu redor freqüentemente
usavam a vegetação rasteira para se esconderem da perseguição dos capitães do
mato.
História:
No século
XVII, era costume dos povos pastores do sul da atual Angola, na África,
comemorar a iniciação das jovens à vida adulta com uma cerimônia chamada n'golo
(que significa "zebra" em quimbundo).Durante a cerimônia, os homens
competiam numa luta animada pelo toque de atabaques em que ganhava quem
conseguisse encostar o pé na cabeça do adversário.O vencedor tinha o direito de
escolher, sem ter de pagar o dote, uma noiva entre as jovens que estavam sendo
iniciadas à vida adulta.Com a chegada dos invasores portugueses e a
escravização dos povos africanos, a capoeira foi introduzida no Brasil.
Como
expressão da revolta contra o tratamento violento a que eram submetidos, os
escravos passaram a praticar a luta tradicional do sul de Angola nos terrenos
de mata mais rala conhecidos como "capoeiras" (termo que vem do tupi
kapu era, que significa "mata que foi", se referindo aos trechos de
mata que eram queimados ou cortados para abrir terreno para plantações dos
índios).
A capoeira
ainda é motivo de controvérsia entre os estudiosos de sua história, sobretudo
no que se refere ao período compreendido entre o seu surgimento e o início do
século XIX, quando aparecem os primeiros registros confiáveis com descrições
sobre sua prática.
Mais do que
uma técnica de combate, surgiu como uma esperança de liberdade e de
sobrevivência, uma ferramenta para que o negro foragido, totalmente
desequipado, pudesse sobreviver ao ambiente hostil e enfrentar a caça dos
capitães do mato, sempre armados e montados a cavalo.
Neste tipo
de comunidade formada por diversas etnias, constantemente ameaçada pelas invasões
portuguesas, a capoeira passou de uma ferramenta para a sobrevivência
individual a uma arte marcial com escopo militar.
Já existiam
registros da prática da capoeira nas cidades de Salvador, Rio de Janeiro e
Recife desde o século XVIII, mas o grande aumento do número de escravos urbanos
e da própria vida social nas cidades brasileiras deu à capoeira maior
facilidade de difusão e maior notoriedade. No Rio de Janeiro, as aventuras dos
capoeiristas eram de tal jeito que o governo, através da portaria como a de 31
de outubro de 1821, estabeleceu castigos corporais severos e outras medidas de
repressão à prática de capoeira.
Foi
inevitável que diversos capoeiristas começassem a utilizar suas habilidades de
formas pouco convencionais. Muitos começaram a utilizar a capoeira como guardas
de corpo, mercenários, assassinos de aluguel, capangas. Grupos de capoeiristas
conhecidos como maltas aterrorizavam o Rio de Janeiro. Em pouco tempo, mais
especificamente em 1890, a República Brasileira decretou a proibição da capoeira
em todo o território nacional, vista a situação caótica da capital brasileira e
a notável vantagem que um capoeirista levava no confronto corporal contra um
policial.
Devido à
proibição, qualquer cidadão pego praticando capoeira era preso, torturado e
muitas vezes mutilado pela polícia. A capoeira, após um breve período de
liberdade, via-se mais uma vez malvista e perseguida. Expressões culturais como
a roda de capoeira eram praticadas em locais afastados ou escondidos e,
geralmente, os capoeiristas deixavam alguém de sentinela para avisar de uma
eventual chegada da polícia.
Em 1932, um
período em que a perseguição à capoeira já não era tão acentuada, mestre Bimba,
exímio lutador no ringue e em lutas de rua ilegais, fundou em Salvador a
primeira academia de capoeira da história. Bimba, ao analisar o modo como
diversos capoeiristas utilizavam suas habilidades para impressionar turistas,
acreditava que a capoeira estaria perdendo sua eficiência como arte marcial.
Dessa forma, Bimba, com auxílio de seu aluno José Cisnando Lima, enxugou a
capoeira, tornando-a mais eficiente para o combate e inseriu alguns movimentos
de outras artes marciais, como o batuque. Mestre Bimba também desenvolveu um
dos primeiros métodos de treinamento sistemático para a capoeira. Como a
palavra capoeira ainda era proibida pelo código Penal, Bimba chamou seu novo
estilo de Luta Regional Baiana.
Em 1937,
Bimba fundou o centro de Cultura Física e Luta Regional, com alvará da
secretaria da Educação, Saúde e Assistência de Salvador. Seu trabalho obteve
aceitação social, passando a ensinar para as elites econômicas, políticas,
militares e universitárias.
Finalmente,
em 1940, a capoeira saiu do código Penal brasileiro e deixou definitivamente a
ilegalidade. Começou, então, um longo processo de desmarginalização da
capoeira.
Em pouco
tempo a notoriedade da capoeira de Bimba demonstrou ser um incômodo aos
capoeiristas tradicionais, que perdiam espaço e continuavam a ser malvistos.
Esta situação desigual começou a mudar com a inauguração do Centro Esportivo de
Capoeira Angola, em 1941, por mestre Pastinha. Localizado no Pelourinho, em
Salvador, o centro atraía diversos capoeiristas que preferiam manter a capoeira
em sua forma mais original possível. Em breve, a notoriedade do centro cunhou
em definitivo o termo "capoeira angola" como nome do estilo
tradicional de capoeira. O termo não era novo, sendo, já na época do império, a
prática da capoeira apelidada, em alguns locais, de "brincar de
angola" e diversos outros mestres que não seguiam a linha de Pastinha
acabaram adotando-o.
Hoje em dia,
a capoeira se tornou não apenas uma arte ou um aspecto cultural, mas uma
verdadeira exportadora da cultura brasileira para o exterior.
O aspecto
marcial ainda se faz muito presente e, como nos tempos antigos, ainda é sutil e
disfarçado. A malandragem é sempre presente, capoeiristas experientes raramente
tiram os olhos de seus oponentes em um jogo de capoeira, já que uma queda pode
chegar disfarçada até mesmo em um gesto amigável. Símbolo da cultura afro-brasileira,
símbolo da miscigenação de etnias, símbolo de resistência à opressão, a
capoeira mudou definitivamente sua imagem e se tornou fonte de orgulho para o
povo brasileiro.
Roda de capoeira:
A roda de
capoeira é um círculo de capoeiristas com uma bateria musical em que a capoeira
é jogada, tocada e cantada. A roda serve tanto para o jogo, divertimento e
espetáculo, quanto para que capoeiristas possam aplicar o que aprenderam
durante o treinamento.
O batizado:
O batizado é
uma roda de capoeira solene e festiva, onde alunos novos recebem sua primeira
corda e demais alunos podem passar para graduações superiores.
O apelido:
Tradicionalmente,
o batizado seria o momento em que o capoeirista recebe ou oficializa seu
apelido, ou nome de capoeira.
Música:
A música é
um componente fundamental da capoeira. Foi introduzida como forma de ludibriar
os escravizadores, fazendo-os acreditar que os escravos estavam dançando e
cantando, quando na verdade estavam desenvolvendo e treinando uma arte marcial
para se defenderem.
Toques de capoeira:
O toque de capoeira
é o ritmo tocado pelos berimbaus, seguidos pelos demais instrumentos. Podem ser
executados desde bem lentamente (como no toque de Angola), induzindo a um jogo
mais lento e estratégico, até bastante acelerados (como em São Bento Grande),
induzindo a um jogo rápido, ágil e acrobático. Podem também ter outros
significados que vão além do jogo ou comandar uma roda restrita, como o toque
de Iúna.
Contudo não
existem regras, uma roda pode manter sempre o mesmo toque ou mesmo inverter,
começando de modo acelerado e terminando de modo lento.
Alguns dos
toques mais comumente utilizados:
Toque de Angola
São Bento Pequeno
São Bento Grande de Angola
São Bento Grande da Regional
Iúna
Cavalaria
Samango
Santa Maria
Benguela
Amazonas
Idalina
A dança e a capoeira:
Devido a sua
origem e história, existiu sempre a necessidade de se esconder ou disfarçar o
aprendizado e a prática da capoeira.
Estilos:
A capoeira
possui três estilos que se diferenciam nos movimentos e no ritmo musical de
acompanhamento. O estilo mais antigo, criado na época da escravidão, é a
capoeira angola. As principais características deste estilo são: ritmo musical
lento, golpes jogados mais baixos (próximos ao solo) e muita malícia. O estilo
regional caracteriza-se pela mistura da malícia da capoeira angola com o jogo
rápido de movimentos, ao som do berimbau. Os golpes são rápidos e secos, sendo
que as acrobacias não são utilizadas. Já o terceiro tipo de capoeira é o
contemporâneo, que une um pouco dos dois primeiros estilos.
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